A Tri-Unidade de Deus no Antigo Testamento

O termo “trindade” vem sendo usado faz aproximadamente mil e seiscentos anos, para tentar explicar a natureza de Deus. Mas, a escolha desse vocábulo específico foi infeliz e incorreta. Quando os cristãos usam a palavra “trindade” (que significa, simplesmente, “três”), inconscientemente comunicam aos ouvintes um conceito politeísta (a crença ou a adoração a uma pluralidade de deuses). A palavra “trindade” foi cunhada a fim de referir-se à pluralidade que há em Deus, ao mesmo tempo em que manteria o pensamento da unidade divina. Foi uma escolha bem-intencionada, mas infeliz.

Atualmente, muitos não-cristãos supõem que essa doutrina significa que a cristandade acredita em três deuses, e não em um só. No seu âmago, entretanto, esse ensino na realidade em nada difere da doutrina judaica central sobre a unidade de Deus. Para descrever corretamente o verdadeiro conceito bíblico da natureza de Deus, deveríamos usar o vocábulo tri-unidade, em lugar de trindade. O termo tri-unidade transmite a ideia de que Deus é um só, ao mesmo tempo em que consiste em três pessoas.

Isso de maneira alguma indica a crença na existência de três deuses; antes, indica uma crença em total consonância com os ensinamentos da lei e dos profetas. Apesar de estar acima de nossa capacidade de experimentar, ou, quanto a muitos aspectos ao menos de compreender plenamente esse fenômeno, essa é, não obstante, a posição da Bíblia. Se quisermos entender esse conceito, em qualquer medida, teremos de voltar-nos para as Escrituras com esta simples indagação: “Que diz o Senhor?” (Os textos bíblicos aqui usados são extraídos da Edição Revista e Atualizada da Sociedade Bíblica do Brasil.)

A Unidade Composta de Deus

A unidade de Deus é ensinada nas páginas do Antigo Testamento. Vintenas de passagens, na lei e nos profetas, convergem a fim de prover-nos uma irrefutável evidência de pluralidade, dentro da unidade de Deus.

Pluralidade na Shema

O povo judaico com frequência faz objeção à tri-unidade de Deus por causa daquilo que acreditam ser-lhes ensinado na Shema. Para a maior parte dos israelitas, a Shema é o coração mesmo do judaísmo. Trata-se daquela passagem fundamental que se encontra no livro de Deuteronômio:

“Shema Yisroel Adonai Elohenu Adonai Echad …” Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de toda a tua força”(Deuteronômio 6:4,5).

A palavra Shema é o primeiro vocábulo hebraico dessa passagem, e significa “ouve”. A premissa aceita entre os judeus é que essa declaração ensina que Deus é indivisivelmente uno. Consequentemente, eles levantam a seguinte objeção: “Não posso crer nessa pessoa, Jesus, que os cristãos consideram Deus”. Para eles, a Shema parece haver silenciado para sempre o argumento que envolve a crença cristã histórica na deidade de Jesus. Entretanto, um exame cuidadoso do trecho de Deuteronômio 6:4 na verdade estabelece, ao invés de refutar, a pluralidade de Deus. Uma completa revisão do texto hebraico revela essa verdade acima de qualquer dúvida razoável. O incrível é que a Shema é uma das mais pode- rosas declarações em favor da tri-unidade de Deus que se pode encontrar na Bíblia inteira. A própria palavra que alegadamente argumenta contra o ensino da tri-unidade de Deus realmente afirma que em Deus há pluralidade, pois, a última palavra hebraica da Shema é echad, um substantivo coletivo, em outras palavras, um substantivo que demonstra unidade, ao mesmo tempo que se trata de uma unidade que contém várias entidades. Poderíamos citar um bom número de exemplos.

Em Gênesis 1:5, Moisés empregou essa palavra ao descrever o primeiro dia da criação: “Chamou Deus à luz Dia, e às trevas, Noite. Houve tarde e manhã, o primeiro dia”. A palavra aí traduzida por “primeiro” é a palavra hebraica echad. Aquele primeiro dia, é claro, consistiu em luz e trevas – manhã e tarde.

Em Gênesis 2:24, Deus revelou o que se fazia necessário para um casamento feliz. Ele instruiu marido e mulher a tornarem-se “os dois uma só carne”, indicando que aquelas duas pessoas unir-se-iam, formando perfeita e harmônica unidade. Em tal caso, novamente, a palavra hebraica é echad. O ponto é claro, portanto – echad é sempre usada para indicar unidade coletiva, uma unidade em sentido composto.

Em Números 13, Moisés registrou o relato sobre os doze espias hebreus que tinham sido enviados para espiar a terra de Canaã. Quando retornaram daquela missão, de acordo com o versículo 23, eles pararam em Escol, onde “cortaram um ramo de vide com um cacho de uvas”. A palavra que aqui aparece como “um”, em “um cacho”, novamente é echad, no hebraico. Mas, como é evidente, esse único cacho de uvas consistia em muitas uvas.

Por semelhante modo, em Esdras 2:64, registram as Escrituras: “Toda esta congregação junta foi de quarenta e dois mil trezentos e sessenta”. A palavra hebraica aqui traduzida por toda, na expressão “toda esta congregação”, é a palavra hebraica echad. É evidente que aquela congregação de Israel, embora fosse uma só, compunha-se de muitos indivíduos. De fato, nada menos de 42.360 israelitas a compunham!

Jeremias, grande profeta de Judá, no capítulo 32 de seu tratado, inspirado pelo Espírito de Deus, empregou a mesma palavra hebraica, echad, a fim de denotar uma unidade composta. Lemos nos versículos 38 e 39: “Eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus. Dar-Lhes-ei um só coração e um só caminho …”. A referência feita por Jeremias a “um só coração” e a “um só caminho”, envolve a inteira nação de Israel. Assim, muitos, coletivamente falando, são considerados como somente um.

O que é mais interessante nisso tudo é que há outra palavra hebraica que significa “unidade absoluta”. Essa outra palavra hebraica é yachid.

Em Gênesis 22:2, Abraão é instruído: “Toma teu filho, teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá; oferece-o ali em holocausto …”. O termo aqui traduzido em português por “único” no hebraico é yachid.

Esse vocábulo hebraico é novamente usado nos versículos 12 e 16 desse mesmo capítulo. Havia apenas um filho de Abraão que Deus reconhecia. Isaque era o filho da promessa – não havia outro. Nesse sentido, pois, yachid estabelece singularidade absoluta: um e somente um.

Também, em Provérbios 4:3, Salomão assevera: ” … eu era filho em companhia de meu pai, tenro, e único diante de minha mãe”.

Davi, por sua vez, escreveu em Salmos 22:20: “Livra a minha alma da espada, e das presas do cão a minha vida”, onde temos “minha vida”, literalmente, no hebraico, “minha única”, sendo usada a palavra hebraica yachid.

Também encontramos escrito em Juízes 11:34:

“Vindo, pois, Jefté a Mispa, a sua casa, saiu-lhe a filha ao seu encontro, com adufes e com danças: e era ela filha única; não tinha ele outro filho nem filha”.

Jeremias declara, em 6:26 de seu livro: “Ó filha do meu povo, cinge-te de cilício, e revolve-te na cinza; pranteia como por um filho único …”.

De novo, lê-se em Amós 8:10: ” … farei que isso seja como luto por filho único…”.

E novamente, em Zacarias 12:10, onde se lê palavras ditas pelo próprio Senhor Deus: ” … olharão para mim, a quem traspassaram; pranteá-lo-ão como quem pranteia por um unigênito…”.

Percebemos, portanto, que os escritores sagrados, inspirados pelo Espírito de Deus, dispunham de duas palavras hebraicas que podiam escolher, quando queriam comunicar a verdade acerca da natureza de Deus. É claro que Yahweh selecionou a palavra sagrada que a identifica com a ideia de pluralidade. Esse substantivo coletivo sempre foi escolhido, e não o singular absoluto. A preferência dada a echad, ao invés de yachid, não deixa margem para dúvida quanto ao sentido que Deus nos queria transmitir.

Pluralidade no Nome de Deus

Em nossa Bíblia portuguesa, os tradutores, ao traduzirem as palavras hebraicas El e Elohim, fizeram-no com “D” maiúsculo, “Deus”. No hebraico, essas palavras significam ambas “Todo-poderoso”.

Ambos esses nomes, na verdade, são uma só palavra. Todavia, EI é a forma singular, enquanto que Elohim é a forma plural da mesma palavra. Particularmente importante é o fato que dentre as 2.750 vezes em que essas palavras são empregadas no Antigo Testamento, Elohim, a forma plural, é empregada por nada menos de 2.500 vezes.

Êxodo 20 provê para nós um excelente exemplo. Nessa passagem, Moisés estava transmitindo os Dez Mandamentos de Deus ao povo de Israel. Yaweh, pois, declara ali: “Eu sou o Senhor teu Deus … Não terás outros deuses diante de mim” (vv. 2 e 3). Nessa declaração, “Deus” e “deuses” são idênticas no original hebraico, isto é, Elohim. A variação que se vê na tradução portuguesa deve-se ao fato que os tradutores, apesar de traduzirem a segunda ocorrência da palavra por “deuses”, no primeiro caso preferiram traduzir Elohim no singular, “Deus”.

Gramaticalmente, no hebraico pelo menos, seria igualmente aceitável ter sido traduzi da essa passagem como:

“Eu sou o Senhor teus Deuses … Não terás outros deuses diante de mim”.

Isso posto, essa questão de pluralidade, quanto ao nome divino, deve ser reconhecida como uma importante questão, que precisamos levar em conta. O livro de Gênesis fornece-nos uma excelente ilustração. Somente no relato sobre a criação, a palavra hebraica Elohim é usada por cerca de trinta e duas vezes, aludindo à obra divina da formação dos céus e da terra.

Outra instância disso encontra-se na própria Shema. Ali o substantivo “Deus” é o termo hebraico Elohenu. Ora, Elohenu reflete tanto o pronome plural, em “nosso” Deus, como a forma plural, Elohim.

Impõe-se novamente a pergunta: Por qual razão Deus preferiu coerentemente a forma plural Elohim, a fim de demonstrar a Sua unidade? O uso de uma forma singular não transmitiria, com maior clareza, o conceito de singularidade? O fato, entretanto, é que Deus preferiu comunicar, por intermédio de Moisés, a idéia de pluralidade dentro de Sua unidade.

Um Ponto no Livro de Gênesis

A pluralidade, nos pronomes pessoais, quando utilizada em relação a nosso Senhor, adiciona uma prova ao conceito da tri-unidade de Deus. Uma vez mais, pomo-nos a examinar o registro de Gênesis, em busca de evidências. Três passagens demonstram esse ponto:

“Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem conforme a nossa semelhança … Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou: homem e mulher os criou” (Gênesis 1:26,27).

Logo no começo, podemos observar a seleção da palavra hebraica Elohim como forma do substantivo usado nesse versículo; Elohim estava pronto para criar o homem. Em consonância com essa escolha, pois, foi inserido o pronome pessoal plural, “nós” (subentendido no verbo “façamos”) e o adjetivo possessivo plural “nossa” (por duas vezes).

O Dr. David L. Cooper estabeleceu um ponto válido, ao observar que os substantivos hebraicos “semelhança” e “imagem” estão ambos no singular, o que indica que a pessoa que falava como a pessoa a quem se falava era uma e a mesma pessoa. E assim a conclusão é muito iluminadora: A ideia de pluralidade (“nós” e “nossa”) é fundida com termos no singular (“semelhança” e “imagem”), assim demonstrando aquilo que podemos denominar de unidade coletiva, de unidade composta. Isso é reforçado no versículo 27, onde Deus refere-se a Si mesmo usando pronomes pessoais no singular “sua” e “ele” (ele, subentendido em “criou”).

Deve-se compreender que somente Deus é capaz de criar – isso se evidencia por todo o volume da Bíblia. Visto que isso é verdade, então quem está em foco dentro da declaração: “Façamos NÓS o homem à NOSSA imagem, conforme a NOSSA semelhança”? Só há uma conclusão lógica.

” … Eis que o homem se tornou como um de nós … o Senhor Deus, por isso, o lançou fora do jardim do Éden…”. (Gênesis 3:22,23). Adão e Eva haviam transgredido contra Yahweh. A reação do Senhor Deus foi expulsá-los do jardim do Éden. Notemos que Deus observou que o homem “… se tornou como um de NÓS…”. (O pronome pessoal no plural), razão pela qual o homem precisava ser expulso.

O terceiro ponto a ser salientado encontra-se no relato sobre a dispersão da humanidade, quando da construção da Torre de Babel, “Vinde, desçamos, e confundamos ali a sua linguagem … Destarte o Senhor os dispersou dali pela superfície da terra…”. (Gênesis 11:7,8). Uma vez mais o pronome pessoal plural “nós”, é empregado (subentendido nos dois verbos, “descçmos” e “confundamos”). A isso segue-se uma referência a Deus, no singular. Foi “o Senhor” quem executou a divina decisão: ” … desçamos …”.

Tri-Unidade ou Politeísmo?

Uma pergunta emerge das páginas do Antigo Testamento: Devemos crer em um Deus que consiste em mais de uma pessoa, ou devemos aceitar o politeísmo? Uma breve investigação em algumas poucas passagens bíblicas pode ilustrar as alternativas que se abrem diante de nós.

No Salmo 45, o rei de Israel é apresentado como se fosse Deus. Lemos especificamente, nos versículos 6 e 7:

“O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre; cetro de equidade é o cetro do teu reino. Amas a justiça e odeias a iniquidade; por isso Deus, o teu Deus, te ungiu com o óleo de alegria, como a nenhum dos teus companheiros”. Visto que a primeira palavra Deus, em itálico, está no imperativo, destaca-se a indagação: Quem é o Deus de Deus?

Novamente, em Salmos 110:1, diz o rei Davi:

“Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés”. A questão que deve ser feita quanto a essa passagem é: A quem Davi dirigia-se como o seu Senhor? Quando Davi compôs esse salmo, ele era o monarca de Israel. Não havia outro maior do que Davi em Israel, exceto Deus. Quem, pois, deve ser considerado Senhor de Davi? E para quem Deus estava falando?

Em Gênesis 18 e 19, Moisés registrou a destruição das cidades de Sodoma e Gomorra. É evidente, através dos dois capítulos, que o próprio Senhor apareceu a Abraão como um dos três homens que o visitaram. No trecho de Gênesis 19:24 lemos:

“Então fez o Senhor chover enxofre e fogo, da parte do Senhor, sobre Sodoma e Gomorra”. Inquestionavelmente, essa referência bíblica identifica duas pessoas distintas. Uma vez mais, a escolha se destaca: politeísmo ou a tri-unidade de Deus!

Temos a certeza de que a Bíblia não ensina o politeísmo. É simplesmente intransponível o abismo entre o ensino da tri-unidade de Deus e o conceito de muitas divindades. Acusar alguém que os cristãos acreditam em três deuses é algo destituído de base. O politeísmo concebe e ensina deuses que são entidades independentes umas das outras – deuses que a todo tempo entrechocam-se com outros deuses, em seus objetivos. Mas, dentro da tri-unidade de Deus sempre há uma absoluta unidade de desejo, de desígnio e de execução. Todas as refe- rências bíblicas mostram Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo operando em Perfeita união.

Basta esse fato para vermos a grande diferença que há entre aqueles dois conceitos.

Messias Reconhecido como Deus

“Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz; para que se aumente o seu governo e venha paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e o firmar mediante o juízo e a justiça, desde agora e para sempre. O zelo do Senhor dos Exércitos fará isto” (Isaías 9:6,7).

Esses versículos mostram-nos explicitamente que Aquele sobre cujos ombros estará o governo, e por intermédio de quem chegarão a este mundo a justiça, a paz e a retidão, é, ao mesmo tempo, Deus e homem. Como criança ainda, Ele nasceu na nação de Israel. Isso dá a entender, de maneira enfática, a humanidade do Messias. Ao mesmo tempo, porém, ele também é ali reconhecido como o verdadeiro Deus, por ser o Filho dado por Deus. Além disso, essa criança, esse Filho, é chamado de “Deus Forte”. Acrescente-se a isso que lhe são conferidos outros títulos que só cabem legitimamente a Deus. Pois Ele é designado “Maravilhoso”, “Conselheiro”, “Pai da Eternidade” e “Príncipe da Paz”.

Jeremias aliou-se a Isaías, ao insistir que o Messias é Deus em carne humana.

“Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, rei que é, reinará, e agirá sabiamente, e executará o juízo e a justiça na terra. Nos seus dias Judá será salvo, e Israel habitará seguro; será este o seu nome, com que será chamado: Senhor Justiça Nossa” (Jere- mias 23:5,6).

Não há dúvidas que essa declaração refere-se ao Messias que procederia da linhagem de Davi. Na qualidade de Rei de Israel, Ele haveria de trazer justiça, retidão e paz a esta terra. Quem realizará tudo isso? De conformidade com essa porção da Palavra de Deus, será o Renovo justo de Davi (O Messias) – Yahweh-tsidkenu, “Senhor Justiça Nossa”. Visto que Deus deixa absolutamente claro que não existem deuses além dEle mesmo, como pode- ríamos compreender que Ele chamou Seu servo, o Messias, de Deus? Isso só pode ser compreendido quando percebemos que esse Filho de Deus, esse Renovo justo, na realidade é Deus.

O Messias é Eterno

Em um sentido limitado, algumas das qualidades ou atributos de Deus são exibidos na Sua criação, particularmente na humanidade. Não obstante, há muitas outras características que residem exclusivamente no próprio Deus. A eternidade é um dos atributos designado somente a Deus. Diferente dos homens, ou de qualquer substância existente no uni- verso criado, Deus não somente existe para sempre, mas também não teve começo – Ele sempre existiu. Deus revelou-se a Moisés chamando a Si mesmo de “Eu sou o que Sou” (Êxodo 3:14) – uma declaração cujo propósito era o de mostrar ao Seu servo atemorizado a passada, a presente e a futura existência de Sua divina pessoa. Deus simplesmente existe! Por semelhante modo, há muitas outras passagens, no Antigo e no Novo Testamento, que nos informam que antes de qualquer coisa vir à existência, Deus já estava lá.

Tendo esse fato em mente, voltamos agora a nossa atenção para os ensinos bíblicos que abordam a questão da pré-existência do Messias. Não somente Ele deveria nascer como um ser humano, em algum ponto histórico do tempo, mas também, de acordo com o profeta Miquéias, o Messias (o Filho de Deus) vem “desde os dias da eternidade”. Escreveu esse profeta judeu, em 5:2 do livro que tem seu nome:

“E tu, Belém Efrata, pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de ti me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade”… Assim, o local do nascimento do Príncipe que viria foi predito séculos antes que Ele aparecesse neste mundo. O Messias surgiria na cena humana não simplesmente como fruto do ventre de uma virgem, mas também procederia das regiões da eternidade, onde Ele sempre existirá, eternidade a fora.

É importante que entendamos que tanto o Antigo quanto o Novo Testamento destroçam o errôneo conceito do nascimento físico de Jesus como se isso tivesse constituído a Sua origem, o Seu começo. A Bíblia nunca ensina tal coisa, em parte alguma. Por igual modo, as Escrituras nunca sustentam a tese de que Maria é a mãe de Deus, visto que Deus nunca nasceu. Deus sempre existiu. O que o Novo Testamento nos revela, paralelamente ao Antigo Testamento, é que Deus manifestou-se em carne, como ser humano. Maria foi a mulher judia que Deus escolheu para dar à luz Àquele que é o Deus encarnado – o eterno Filho de Deus.

O Messias Foi Adorado

Somente Deus pode ser adorado, com toda a legitimidade. Deus proíbe a adoração direta a qualquer outro ser ou objeto, tanto nos céus quanto na terra. Em Salmos 118:8 somos instruídos quanto a esse particular: “Melhor é buscar refúgio no Senhor do que confiar no homem”. Mais dogmático ainda se mostra o profeta Jeremias, o qual citou Deus a dizer: “Maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor … Bendito o homem que confia no Senhor, e cuja esperança é o Senhor” (Jeremias 17:5,7).

No entanto, em certas porções das Escrituras, encontramos o Messias aceitando adoração da parte dos homens. Davi deixa isso perfeitamente claro no Salmo 2. Ali ele identifica o Messias como o Filho de Deus, e, em seguida, instrui que o Rei-Messias deveria ser adorado (v. 12). Isso pode ser chocante para o seguidor das Escrituras – a menos que ele compreenda a tri-unidade de Deus. Então torna-se lógica e escriturística aquela admoestação de Davi, que recomenda: “Beijai [adorai] o Filho…”.

Deus deixou perfeitamente claro que o Seu Filho, o Messias, tem todo o direito de ser adorado. Isso, por sua vez, significa que Cristo é Deus. Se não fosse uma realidade, então a única alternativa que nos restaria seria acreditar que o Deus que nos adverte a não reverenciar ao homem, estava contradizendo-se ao ordenar-nos tal coisa. Naturalmente, Deus não estava se contradizendo. Ao contrário, estava frisando esse ponto uma vez mais: o Messias é Deus.

Uma Palavra Final

Temos compartilhado de certo número de momentosos fatos – verdades que são capazes de libertar nossas mentes, se estivermos dispostos a rejeitar as crenças restritivas, agrilhoadas às tradições humanas, para então considerarmos objetivamente as Sagradas Escrituras. A Palavra de Deus, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, ensina-nos que o Senhor onipotente é uma personalidade triúna. Quanto a esse detalhe, o judaísmo bíblico (por meio das Escrituras do Antigo Testamento), e o cristianismo bíblico estão em total acordo.

Os crentes que acreditam na Bíblia não são politeístas. Antes, a doutrina deles é tão autenticamente monoteísta quanto o é a doutrina do judaísmo bíblico. Na verdade, se não entendermos o conceito da tri-unidade de Deus, nos sentiremos inteiramente perdidos na tentativa de explicar grande parte dos ensinos do Antigo Testamento.

O ponto crucial do problema inteiro repousa, em última análise, sobre a explicação do impacto exercido pela vida e pelo ministério de Jesus Cristo. Por mais de dois milênios, Ele tem cativado os corações dos homens e tem dominado a história da humanidade. Se quisermos ser perfeitamente honestos, como poderíamos explicar a pessoa de Cristo, à parte do fato que Ele é Aquele que foi anunciado por Isaías como o Deus forte.

Por Stanley Rosenthal

Fonte: http://solascriptura-tt.org/